tag:blogger.com,1999:blog-83733602988134226212024-03-20T06:17:22.878+00:00Nós e os (outros) animaisEste blogue reúne um conjunto de textos dedicados à compreensão da relação entre nós e os (outros) animais. Insere-se no âmbito dos estudos antrozoológicos, nos quais o autor é um iniciado e, por isso, valem o que valem. Todas as contribuições e sugestões são muito bem-vindas. Contacto: ricardo.reis.santos@gmail.comRicardo S. Reis dos Santoshttp://www.blogger.com/profile/07799519213791376100noreply@blogger.comBlogger8125tag:blogger.com,1999:blog-8373360298813422621.post-71369799481098280662008-08-27T15:57:00.003+01:002008-08-27T16:14:14.060+01:00<strong>VIDA DE CÃO</strong><br /><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-E9n8vJWm7atfiOfZm7og6EbdGYKlwDnIL056u0Q6e0hLVemtGWwRlS9mtDpvstpYgUwRmGqhu6ZnkNiCW0CsWD4y5KE2T6hekScn0u4c6xFl9Cef6J8G7oYu1_dnHaphD5EAlWUj4a0/s1600-h/Scanner+001.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5239212475571100178" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-E9n8vJWm7atfiOfZm7og6EbdGYKlwDnIL056u0Q6e0hLVemtGWwRlS9mtDpvstpYgUwRmGqhu6ZnkNiCW0CsWD4y5KE2T6hekScn0u4c6xFl9Cef6J8G7oYu1_dnHaphD5EAlWUj4a0/s400/Scanner+001.jpg" border="0" /></a>Ricardo S. Reis dos Santoshttp://www.blogger.com/profile/07799519213791376100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8373360298813422621.post-53897496908625105992008-08-25T11:07:00.006+01:002008-08-25T11:22:37.550+01:00<div><strong>VIDA DE CÃO</strong><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhs9iFfZ2Kxbx11sTA7ki-uwp8y3yShCF7TVCjnd5tYYAz6kK21rzTaKtaxYLuCrxamwrPXBGvfyUKwKqfJoASY2SBxwMQKOD5Mo2_p3qAJtbrn_6LPnKRjjTi2zyKs547pejdiwBJ874Y/s1600-h/DSC06227.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5238396496251348994" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhs9iFfZ2Kxbx11sTA7ki-uwp8y3yShCF7TVCjnd5tYYAz6kK21rzTaKtaxYLuCrxamwrPXBGvfyUKwKqfJoASY2SBxwMQKOD5Mo2_p3qAJtbrn_6LPnKRjjTi2zyKs547pejdiwBJ874Y/s400/DSC06227.JPG" border="0" /></a><br /><p align="left"></p></div>Ricardo S. Reis dos Santoshttp://www.blogger.com/profile/07799519213791376100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8373360298813422621.post-90672339900317320172008-05-14T22:18:00.005+01:002008-05-14T22:28:21.356+01:00<strong>VIDA DE CÃO</strong><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoj_5uTZR-CWg78MkNOvdP_CwnDk_ae7QKGJG5zr4u0MuvzHqn8xtKX3uACMyYUlScoamIGgwSqlbMQk196j8SGmCx3Iiu6SHX6vUAAoqNoyZkpXGfdCdOPpC4E4lbI6zcP9tCepJ9OxM/s1600-h/ademasalentejo17julho05+050.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5200347045094707538" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoj_5uTZR-CWg78MkNOvdP_CwnDk_ae7QKGJG5zr4u0MuvzHqn8xtKX3uACMyYUlScoamIGgwSqlbMQk196j8SGmCx3Iiu6SHX6vUAAoqNoyZkpXGfdCdOPpC4E4lbI6zcP9tCepJ9OxM/s400/ademasalentejo17julho05+050.jpg" border="0" /></a>Ricardo S. Reis dos Santoshttp://www.blogger.com/profile/07799519213791376100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8373360298813422621.post-15525675020164754512008-03-16T13:56:00.003+00:002008-03-16T14:08:16.637+00:00<div><strong>LIVROS</strong></div><br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_F5hiV-E8bntKHhYQh49qBbWqq3aBH5LSNFEB4A0hW5Jh7DH1ubACSYRhLeKlJX6q_yf8jWvQLKeWesDY_oxsBXqbk7Za4DrOhPNrMRMScqGGKQNjNCQ1zaMFplVK9rfiVy27s-vEI4o/s1600-h/Reaktion%25209781861893345%2520Look.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5178339271629406274" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_F5hiV-E8bntKHhYQh49qBbWqq3aBH5LSNFEB4A0hW5Jh7DH1ubACSYRhLeKlJX6q_yf8jWvQLKeWesDY_oxsBXqbk7Za4DrOhPNrMRMScqGGKQNjNCQ1zaMFplVK9rfiVy27s-vEI4o/s200/Reaktion%25209781861893345%2520Look.jpg" border="0" /></a>Editado em Julho de 2007 e, naturalmente, não traduzido para português, <em><a href="http://www.reaktionbooks.co.uk/book.html?id=297#">Looking at Animals in Human History</a></em>, de Linda Kalof é um livro que vale a pena ser lido. Sobretudo porque nos dá uma visão panorâmica da história da nossa representação dos animais, desde a pré-história até à pós-modernidade, e a forma como essa representação se foi alterando à medida que decorriam mudanças na condição social. Linda é uma professora de sociologia da Michigan State University com um ponto de vista muito interessante. Aliás, o ano de 2007 foi muito produtivo para Linda uma vez que também publicou <a href="http://www.bergpublishers.com/?tabid=1804"><em>Animals Reader. The Essential Classic and Contemporary Writings</em></a> e <em><a href="http://www.bergpublishers.com/?tabid=2488">A Culural History of Animals</a> </em>(juntamente com Brigitte Resi) em seis volumes. Uma entrevista a Linda Kalof será brevemente publicada neste blogue. </div>Ricardo S. Reis dos Santoshttp://www.blogger.com/profile/07799519213791376100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8373360298813422621.post-29325847276974753562007-12-18T19:18:00.000+00:002007-12-18T19:52:42.266+00:00<strong>NOS RASTOS DA SOLIDÃO: ANIMAIS DE COMPANHIA</strong> <div></div><br /><div><em><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqspEqbXMa6mG6EmgoURS_CVPCkmt12zd-BlodvweyFG8BpMqtrZ0LPhBxXuGAbBOhVFiOUKefsFcpB8hCZeW-L_nGfjyErenA7UXKYhD2QwRUVdKx_JzhJHsrwr-9xjAJVFungGx2ymQ/s1600-h/jmp_sm.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5145398327524886370" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqspEqbXMa6mG6EmgoURS_CVPCkmt12zd-BlodvweyFG8BpMqtrZ0LPhBxXuGAbBOhVFiOUKefsFcpB8hCZeW-L_nGfjyErenA7UXKYhD2QwRUVdKx_JzhJHsrwr-9xjAJVFungGx2ymQ/s200/jmp_sm.jpg" border="0" /></a>(Entrevista feita por Ricardo S. Reis dos Santos ao <strong>sociólogo português José Machado Pais</strong> e publicada no jornal Gazeta Animal, 2006)</em></div><div></div><br /><div><span style="color:#666666;"><strong>Contrariando a norma, começo por lhe perguntar o que não é a solidão?</strong><br /></span><br />A sua proposta, chegar a uma ideia da solidão por aquilo que ela não é, tem perfeito cabimento. Leonardo da Vinci também usava esse método para melhor definir as cores que usava em suas telas. Colocava-as na vizinhança das cores contrárias: o branco com o preto, o amarelo com o azul, o verde com o vermelho… É o método dos contrastes. Quando sentimos que a nossa existência tem sentido – para os outros e, sobretudo, para nós mesmos – dificilmente nos achamos em solidão, mesmo quando estamos fisicamente sós. Por isso mesmo penso que a solidão é um terreno de desenlaces sociais.<br /><br /><strong><span style="color:#666666;">Intitulou o seu livro de «Nos rastos da solidão». Pressupõe-se que a forma como nos relacionamos com os animais de companhia representa, ao fim e ao cabo, um rasto da solidão. Aonde nos leva e que tipo de solidão nos mostra esse rasto?</span><br /></strong><br />Sim, há relacionamentos com animais cuja companhia tem um condão. A de preencher vazios de solidão. Raramente nos questionamos sobre essa magia de vida que os animais nos transmitem e muito menos sobre o significado da solidão que é tocada por essa varinha de condão. Um tal rasto de solidão mostra-nos a desumanização da nossa sociedade, isto é, nem sempre os humanos têm capacidade de gerar afectos, relacionamentos, enlaces. Aí surge um abanar de cauda, um miau, uma interactividade de afectos que nem sempre é possível entre os humanos.<br /><br /><strong><span style="color:#666666;">Há socialmente uma certa estigmatização em relação àqueles que têm animais (simbolicamente encorpada na imagem das velhas dos gatos). A que se deve essa estigmatização?</span><br /></strong><br />A estigmatização, neste caso, é fruto da incompreensão. Há quem não compreenda as dádivas desinteressadas que são feitas aos animais. Talvez porque a lógica da sociedade em que vivemos seja uma lógica de interesses onde a dádiva não faz sentido sem uma correspondente contrapartida material. Que ganha aquela velha em dar todos os dias de comer aos seus gatos? Uma tal estigmatização é também fruto do desconhecimento. Há quem não compreenda que o fazer bem faz com que as pessoas que o fazem se sintam bem.<br /><br /><span style="color:#666666;"><strong>No seu livro começa por dizer que «houve um notável aburguesamento das espécies caninas e felinas a partir do momento que passaram a animais de companhia». Quer isto dizer que estes animais também usufruem de um estatuto social?</strong><br /></span><br />Sem dúvida! Há também níveis hierárquicos nas espécies caninas e felinas. E obsessões racistas! Qual é a raça do seu cão? Oh, o meu é um puro-sangue, da raça tal! Efectivamente, há cães e gatos aburguesados, excessivamente mimados, obesos, alimentam-se demais, dormem em excesso, não pulam cercas, se saem há rua, coitadinhos, podem ser atropelados, engriparem-se, apanharem pulgas… Depois há os animais de rua, vagabundos, vira-latas, pois têm de buscar alimento, lutar pela sobrevivência. São como os sem-abrigo das nossas cidades. A domesticação dos animais levou-os a uma excessiva sedentariedade. Os nossos maus hábitos (alimentares e físicos) são passados aos animais de estimação. E até a nível de educação, há, por vezes, permissividade exagerada, descontrole, falta de disciplina. Nem sempre sabemos educar devidamente os nossos animais. Exactamente como acontece com os nossos filhos.<br /><br /><span style="color:#666666;"><strong>A que se deve esta nossa aproximação afectuosa em relação a cães, gatos e outros animais de companhia? E porquê animais e não a pesca, o montanhismo, o álcool ou o benfica?</strong><br /></span><br />Há causas várias, não é? O preenchimento de vazios relacionais, como vimos, pode ser uma delas. Há também quem tenha verdadeira paixão pelos animais e, como sabemos, as paixões não se explicam. Mas há também quem reclame a companhia de um animal porque é chique, é moda, etc. É entre estes últimos que há uma maior propensão ao abandono, quando se aproxima o período das férias, ou quando a moda passou. O sentido da nossa identidade passa por uma vinculação a referentes a quem possamos estar afectivamente ligados. Pode ser um cão, um gato, um cavalo, um desporto, um clube desportivo. Por vezes, cruzamos essas vinculações. Então chamo Benfica ao cão, ou coloco o periquito numa gaiola de grades brancas e verdes ou azuis. E claro, o meu carro é preto porque sou da Académica. Em relação à pesca há um hábito que observei na Holanda que me deixou desconcertado. Pessoas têm o passatempo de pescar peixes nos canais mas quando os apanham devolvem-nos à água. Estranha forma de passar o tempo. A sua relação com os peixes é difícil de caracterizar. Altruístico?<br /><br /><strong><span style="color:#666666;">Serão então os animais de companhia poderosíssimos parceiros para combater a solidão?</span></strong></div><div></div><div>Quando os animais preenchem vazios de solidão aí a relação é completamente diferente. E, na verdade, eles são poderosíssimos parceiros no combate à solidão. Porquê? Talvez porque tenham uma enorme capacidade de escutar. Há animais que parecem interiorizar o sofrimento dos seus donos. O seu olhar, ou melhor, a forma do seu olhar, é como que se fosse um sinal de compreensão, de cumplicidade, de solidariedade. E não é verdade que o olhar de um cão ou de um gato tem tanto para nos dizer? Bom, estou para aqui a falar do ouvir, do olhar… enfim, dos sentidos. Mas, justamente, é através dos sentidos que circulam os sentimentos.<br /><br /><span style="color:#666666;"><strong>Grande parte do capítulo em que aborda os animais de companhia é dedicado a um estudo que efectuou no cemitério do Jardim Zoológico de Lisboa. Porque são os cemitérios «laboratórios de inesperados achados sociológicos»?</strong><br /></span><br />Os sociólogos não têm por hábito frequentar cemitérios; quando os visitam não é na qualidade de sociólogos. Daí o inesperado dos achados. Achados tanto mais valiosos quanto é certo que, afinal, o mundo dos mortos diz-nos muito sobre o mundo dos vivos. Da mesma forma que o relacionamento com os animais nos diz muito sobre o relacionamento que os humanos têm ou não entre si.<br /><br /><span style="color:#666666;"><strong>E nas suas deambulações pelo cemitério do Zoo de Lisboa, o que achou o sociólogo José Machado Pais?</strong><br /></span><br />Achei uma senhora, junto de uma campa, com um lenço enxugando lágrimas do rosto. O seu cão havia sido enterrado há pouco tempo. Depois fui deambulando pelas campas, quase um milhar delas, e fui descobrindo sinais flagrantes do significado que os animais têm para os seus donos. Digo têm e não apenas tinham… pois a morte do animal não apaga da memória as vivências havidas. Por essa razão, em algumas campas li lápides do tipo: “Gatinha: tu não estás só. Parte de mim repousa aqui contigo. Sinto a falta do teu carinho e ternura mas permanecerás sempre no meu coração como a coisa mais bela da minha vida. Felicidade”.<br /><br /><strong><span style="color:#666666;">«Saudade eterna de todos que te amaram», «No céu nos encontraremos. Da mamã que vos ama», são alguns dos epitáfios do cemitério que nas suas várias dimensões parecem dedicados a membros da família. Foi o que foram estes animais? Autênticos (ou apenas?) membros da família?</span></strong><br /><br />Em muitos casos, autênticos membros da família. De uma família alargada em que o cão ou o gato é mais um. No caso de pessoas abandonadas, solitárias, ou de relações cortadas com a família, o animal de estimação é a família. A família toda. Toda a família que não se teve. Nestes casos a perda do animal é tremendamente sofrida.<br /><br /><strong><span style="color:#666666;">O sentimento de perda é então um sinal forte do papel dos animais de companhia como membros da família e, sobretudo, parceiros no combate à solidão?</span></strong><br /><br />Sem dúvida. E disso nos dá conta o recenseamento de algumas inscrições tumulares onde o sentimento da saudade pela perda está bem presente. Exemplo: “Papy e Mamy jamais te esquecerão, permanecerás sempre vivo nos nossos corações. Depois de ti ficou o vazio. Eterna saudade”.<br /><br /><strong><span style="color:#666666;">E depois da perda não vem novamente a solidão?</span></strong></div><br /><div>Depois da perda pode acontecer que a solidão retorne. Ou talvez não. É que o sentimento de saudade não é equivalente ao de solidão. A lembrança de alguém a quem amámos, de alguém que não nos decepcionou, de alguém que continuamos a amar pelo simples facto de a esse alguém lembrar, é uma realidade que nos enche. E porquê? Porque nos preenche, da mesma forma que os vazios de ausência se enchem da presença que a saudade reclama. Por outro lado, a perda alimenta também a esperança do reencontro. Isso foi das coisas que mais me surpreendeu, na pesquisa que fiz. A possibilidade de uma existência espiritual alargada ao mundo dos animais ditos não racionais. Exemplos: “Querida Jane (Janinha) descansa em paz, voltaremos a estar juntas quando Deus quiser. Muitas saudades. Mãe”. Ou: “Minha gatinha linda, nada mudou... Vives e viverás sempre no meu coração, obrigada pela tua compreensão e carinho. A nossa promessa de um dia passear juntas pelo espaço mantém-se. Até lá uma beijoca da dona”. </div><div>_____________________</div><div></div><div><span style="font-size:85%;"></span></div><div><span style="font-size:85%;">José Machado Pais é doutorado em sociologia. Actualmente é investigador coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, onde também dirige a revista <em>Análise Social</em>, e é professor convidado do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, onde coordena a cadeira de Sociologia do Quotidiano. É autor e co-autor de vários livros sendo de destacar <em>Sociologia da vida quotidiana</em>, <em>Arte de amar da burguesia</em>, <em>A prostituição e a Lisboa boémia</em>, <em>Culturas juvenis</em>, <em>Sousa Martins e suas memórias sociais</em>, <em>Consciência histórica e identidade</em>, <em>Ganchos Tachos e Biscates</em> (Prémio Gulbenkian de Ciência 2003) e, mais recentemente, <em>Nos Rastos da Solidão - Deambulações sociológicas</em>.</span></div><div><span style="font-size:85%;"></span></div><div><span style="font-size:85%;">(foto retirada <a href="http://jmp.home.sapo.pt/">daqui</a>)</span></div>Ricardo S. Reis dos Santoshttp://www.blogger.com/profile/07799519213791376100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8373360298813422621.post-18119532885207248952007-12-13T12:56:00.000+00:002007-12-18T19:41:06.044+00:00<div><div><span style="FONT-WEIGHT: bold">REVISTA DE IMPRENSA:<br />CÃES E GATOS TRATADOS COMO PESSOAS NOS EUA</span><br /><br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5145400187245725570" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgegYtAiVbgjB-qkm9j-5giIy03QhCRmoBzx7XLLhc9CIYuFn1W6IuxSs1lqOR_aZlDJlsslMBaA4ltwudWq8o0MiET2QkEDi5s55Awa2posHPli0SCJb7KZFXQSx-k4dHQ5M3SSmahNP4/s400/cao.jpg" border="0" />-Global Notícias, Ano1 N.º 67, 13-12-2007<br /><br /><span style="FONT-WEIGHT: bold">Comentário</span>: é um fenómeno relativamente recente. Os animais de companhia passaram de um estado de <span style="FONT-STYLE: italic">domesticidade</span> para um estado de <span style="FONT-STYLE: italic">familiaridade</span>, quase de intimidade, partilhando hoje espaços que há uns tempos atrás eram-lhes totalmente vedados precisamente por serem animais. Nesses tempos, se alguém dissesse que dorme com um cão era alvo de crítica social. Talvez por isso se diga que «65% <span style="FONT-WEIGHT: bold">confessaram</span> que lhes oferecem prendas na quadra natalícia». Sublinho novamente o «<span style="FONT-WEIGHT: bold">confessaram</span>». Como se fosse um "crime" ou um "pecado". Quer dizer. Nesses tempos talvez fosse!? Por outro lado, também é interessante o título da notícias. «Cães e gatos tratados<span style="FONT-WEIGHT: bold"> como pessoas</span>», isto é, como se fossem pessoas. Para já, uma pergunta: seria possível os cães e os gatos dormirem na cama com os donos e receberem prendas na quadra natalícia sendo tratados <span style="FONT-WEIGHT: bold">como cães e gatos</span> que são?! Muito provavelmente não. O que pode indicar, à partida, uma antropomorfização destes animais de forma a terem os mesmos privilégios que as pessoas. É claro que pode-se argumentar que as pessoas todas não dormem nas nossas camas. Pois não. Mas também não os animais todos. Aliás, essa distinção é precisamente igual. A atitude é mais ou menos esta. <span style="FONT-STYLE: italic">Só o meu cão e o cão da minha namorada é que estão autorizados a dormir na minha cama</span>. Ou então: <span style="FONT-STYLE: italic">Lá em casa há dois cães. Um caniche, irritante, histérico, apanhado na auto-estrada. E um labrador preto, lindo, cheiroso. Somente este está autorizado a dormir na minha cama. O outro vai prá cozinha</span>. Há claramente ostracização, racismo, hierarquização, preferências com base em multicritérios, com a consequente atribuição de estatutos sociais. E não é precisamente isto o que se passa entre nós?!</div></div>Ricardo S. Reis dos Santoshttp://www.blogger.com/profile/07799519213791376100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8373360298813422621.post-4217378582440553392007-12-05T16:36:00.000+00:002007-12-13T13:42:58.825+00:00<span style="font-weight: bold;">O POSTAL DO ORIENTE (1)</span><br /><br />Este postal veio da China, dirigido a duas veterinárias amigas minhas. Os comentários ficam para mais tarde.<br /><br /><span style="font-style: italic;">«Olá Dras. X e Y,</span><br /><span style="font-style: italic;">Ainda se lembram de <span style="font-weight: bold;">nós</span>?</span><br /><span style="font-style: italic;"><span style="font-weight: bold;">Chegámos</span> há pouco mais de um mês</span><br /><span style="font-style: italic;">a este lado de cá do mundo!</span><br /><span style="font-style: italic;">Chegámos bem e para além de já</span><br /><span style="font-style: italic;"><span style="font-weight: bold;">termos</span> uma casinha acolhedora de</span><br /><span style="font-style: italic;">2 andares onde <span style="font-weight: bold;">passamos</span> os dias</span><br /><span style="font-style: italic;">a correr escadas acima, escadas a</span><br /><span style="font-style: italic;">baixo, <span style="font-weight: bold;">a nossa mamã</span> conseguiu</span><br /><span style="font-style: italic;">arranjar um emprego logo na se-</span><br /><span style="font-style: italic;">mana a seguir a termos cá</span><br /><span style="font-style: italic;">chegado! <span style="font-weight: bold;">Podemos dizer</span> que <span style="font-weight: bold;">somos</span></span><br /><span style="font-style: italic;"><span style="font-weight: bold;">umas crianças felizes</span> e que esta</span><br /><span style="font-style: italic;">estadia aparenta ser duradora!</span><br /><span style="font-style: italic;"><span style="font-weight: bold;">Gostávamos</span> também de aproveitar</span><br /><span style="font-style: italic;">toda a simpatia, carinho e atenção</span><br /><span style="font-style: italic;">com que nos sempre trataram e</span><br /><span style="font-style: italic;"><span style="font-weight: bold;">enviamos</span> também umas fotos nossas</span><br /><span style="font-style: italic;">para que não se esqueçam de nós</span><br /><span style="font-style: italic;">da mesma forma que <span style="font-weight: bold;">não nos vamos</span></span><br /><span style="font-style: italic;"><span style="font-weight: bold;">esquecer das dras</span>.</span><br /><span style="font-style: italic;">Muitas lambidelas e festinhas!</span><br /><span style="font-style: italic;">Z. e W.»</span><br /><br />(os sublinhados são meus)Ricardo S. Reis dos Santoshttp://www.blogger.com/profile/07799519213791376100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8373360298813422621.post-69432696881539805162007-12-05T15:59:00.000+00:002007-12-05T16:35:45.680+00:00<span style="font-weight: bold;">VER PARA LÁ DA PRÓPRIA VISTA</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">"A humanidade só estará satisfeita quando viver</span><br /><span style="font-style: italic;">num mundo que ela própria tenha criado"</span><br /><span style="font-style: italic;">(Hegel) </span><br /><br />Sim, pois. O mundo é cor-de-rosa, somos todos bonzinhos uns para os outros e eu tenho de escrever isto depressa porque a Juliana Paes está lá dentro a reclamar que são horas de ir dormir (se é que entendem). Convenhamos. A tendência para produzirmos um mundo que não existe é qualquer coisa de inerente à própria natureza humana. Por vezes, os sonhos comandam mesmo a vida. Aliás, são a própria vida. Quando estamos acordados, temos uma visão opaca do mundo que nos rodeia. Vemos o mundo como nós somos e não como ele é, o que faz com que a única realidade existente, do nosso ponto de vista, seja o "eu". <span style="font-style: italic;">Temos consciência do que somos. Eles são.</span> Esta forma solipsista de encarar o mundo marcou sempre a nossa relação com os (outros) animais. E, pior ainda, o cristianismo, que não considera nenhum animal sagrado, com a história do "dominai todas as espécies da terra e do mar" não fez outra coisa senão produzir uma cambada de déspotas profundamente convencidos de que eles são mesmo a única realidade existente. E eles, os outros, não. São meras utilidades. Uma espécie de escravos ao serviço do homem por vontade de Deus. Ao longo da história, daquela história que também é nossa, foram usados múltiplos argumentos no sentido de reforçar a nossa posição de dominância absoluta sobre tudo e sobre todos. Os argumentos da inteligência e da racionalidade e da linguagem foram sempre apresentados como um exclusivo do homem que justificam <span style="font-style: italic;">per se</span> um ponto de vista de cima para baixo e autorizam uma exploração precisamente nesse sentido. Stephen Jay Gould, um notável biólogo norte americano do século XX, no seu livro <span style="font-style: italic;">A Falsa Medida do Homem</span>, faz uma proposta interessante. A páginas tantas diz o seguinte: «(...) o mundo poderia ter sido ordenado de maneira diferente. Suponhamos, por exemplo, que houvessem sobrevivido uma ou várias espécies de <span style="font-style: italic;">Australopithecus</span>, o nosso género ancestral - situação, em teoria, perfeitamente plausível, porque as nosas espécies surgem por desprendimento das antigas (com os ancestrais normalmente a sobreviver pelos menos durante um certo tempo) e não mediante a transformação global de toda a população. Em tal caso, nós - ou seja, o <span style="font-style: italic;">Homo sapiens</span> - teríamos sido obrigados a enfrentar todos os dilemas morais implícitos no trato com uma espécie humana de capacidade mental notoriamente inferior. Que destino lhe teríamos reservado? Escravidão? Exterminação? Coexistência? Trabalho braçal? Confinamento em reservas ou zoológicos?». Não é muito difícil imaginar a resposta. Basta olhar para a história que ela diz muito sobre a forma como sempre tivémos tendência para achar que somos sempre mais qualquer do que os outros. Talvez isto seja uma herança da Antiga Grécia. Os bárbaros são sempre os outros, aqueles, os tais. Claro está que também a nossa relação com os (outros) animais foi sempre marcada por este ponto de vista e que ainda hoje, embora de uma forma mais ténue, permeia as nossas atitudes para com os animais. Mas há diferenças que interessam ser estudadas. Por exemplo, os cães de hoje já não vão à caça, já não vivem acorrentados no quintal e já não comem restos. Ora, isto diz muito, tem de querer dizer muito sobre o tipo de sociedade em que nos transformámos, naquilo que estamos a ser.<br /><br />A intenção deste blogue, que agora inicia actividade, não é julgar. O interesse está em tomar o pulso. Ver as coisas como elas de facto são e não como deviam ser. Neste caso particular, tenho interesse em caracterizar a multitude de laços que as pessoas estabelecem com os seus animais de estimação. Depois, a minha proposta é de reflectirmos sobre essas práticas culturais e sociais e afectivas que compõem o quotidiano, que fazem o quotidiano. Tudo isto ao mesmo tempo que vamos fazendo uma viagem no tempo e na história e ver como a nossa relação com os (outros) animais se foi construindo. Ao fim e ao cabo, a intenção deste blogue é estudar a relação do homem com os (outros) animais. Isto promete.Ricardo S. Reis dos Santoshttp://www.blogger.com/profile/07799519213791376100noreply@blogger.com0